*-*
C
|
hristine estava ofegante, tremia, chorava,
sentindo em seu rosto o sangue que Adam derramara no momento de sua morte, suas
lágrimas se misturavam ao sangue e deixavam em sua boca um gosto salgado e
amargo. Por alguns momentos, sua mente ficou vazia e o único impulso que sentiu
foi o de gritar, gritar pra sempre, um grito sem fim que explodisse tudo a sua
volta.
Por alguma razão, Ricky não entrava no
carro, apenas a encarava com um sorriso demoníaco enquanto se alimentava do
sangue de Adam ainda quente. Por instantes, olhou para os lábios dele sorvendo
de maneira selvagem o sangue que ainda era expelido pelo ferimento aberto,
aqueles lábios que em outro tempo ela tanto desejava, agora seriam os
instrumentos da sua própria morte.
Imóvel, acuada contra a porta do carro,
Christine esperava por sua morte inevitável. Desesperada, começou a rezar, uma
reza antiga que aprendera com seu avô, uma das poucas coisas que ela conhecia
do idioma irlandês:
- Ainghil Dhe, bi ’na do lasair leith
romham, Bi ’na do reuil iuil tharam, Bi ’na do ro reidh fotham, Is ’na do
chiobair caomh mo dheoghann, An diugh, an nochd agus gu suthann. Amen.*
Era uma invocação angélica. Christine
pensou em seu avô, ele sim acreditava nessas coisas místicas, contos de fadas
com duendes traiçoeiros e bruxas vingativas, desde pequena ouvira histórias de
como São Patrício expulsou as serpentes da Irlanda e de como São Columba
exorcizou o Monstro do Lago
Ness na Escócia. Ele talvez
fosse o único que acreditaria nela se ela contasse sobre vampiros.
-Mas se vampiros existem – ela pensou – a
forma de matá-los deve ser igual á dos livros, crucifixo, água-benta, estaca no
coração – ela tinha um
crucifixo no pescoço, mas era tão pequeno...
Olhou para o colar que pendia do espelho
do carro, parecia ainda mais assustador, agarrou-se ao crucifixo em seu
pescoço, pensou em abrir a porta e correr, mas a porta estava bloqueada por uma
parede e na outra porta, o vampiro a aguardava. Estava encurralada.
Tentou rezar mais uma vez, mas as palavras
em irlandês se misturavam na sua cabeça e mal saiam pelos seus lábios que ainda
estavam tremendo, tudo estava acontecendo tão rápido, mesmo assim ela não
entendia por que Ricky ainda não a atacara, afinal ela era a vítima perfeita,
indefesa, vulnerável e desprotegida, por
que ele ainda não lhe fizera nenhum mal? –
ela se perguntava, enquanto via o vampiro com os lábios banhados no sangue de
Adam – pobre Adam!
Ricky sorriu para ela, suas presas eram
bem maiores agora, suas pupilas eram dilatadas. A vampira ruiva observava tudo
do outro lado da rua encostada à parede cinzenta dos fundos da lanchonete.
A rua estava deserta e mesmo se alguém os
visse, certamente correria daquela visão grotesca. Um rio de sangue escorria
pelo asfalto enquanto o vampiro drenava todo o sangue que podia da ferida
aberta. Num piscar de olhos e numa velocidade incrível, a mulher já estava
ao lado de Ricky. Segurou os cabelos dele e puxou sua cabeça forçando-o a
descravar suas presas da carne despedaçada de sua vítima.
_ Ya basta Ricardo! El hombre esta muerto! – falou a mulher olhando nos olhos dele enquanto ainda o
segurava pelos cabelos, Christine reconhecera o idioma falado pela
mulher, era espanhol, ela não sabia o que significava, mas seja o que fosse,
aquilo fez Ricky parar. Era evidente que ele a obedecia.
Os olhos da mulher encontraram os dela,
eram olhos extremamente belos, uma íris levemente acinzentada, um semblante
triste. A mulher a observou, afastou o corpo de Adam com um dos pés e se
inclinou para a porta do carro, olhou nos olhos de Christine, inspirou
profundamente o ar e falou devagar:
_ Teu medo tiene um cheiro suave, pequeña! - o
carregado sotaque castelhano deixava o sorriso em seus lábios muito mais cruel.
Christine suspirou profundamente, segurou mais uma vez seu pingente de cruz,
apertando com mais firmeza desta vez, quase rompendo sua frágil corrente, sua
voz tremia, mas mesmo assim ela perguntou:
_ Por que vocês ainda não me mataram? uma coragem súbita surgiu em seu
interior e isso a fez encarar a mulher - Me
diga! Não sei que tipo de aberrações assassinas vocês são, mas sei que já
poderiam ter me matado e ainda não o fizeram. Por quê?
Os dois vampiros se entreolharam e riram,
a mulher se adiantou e respondeu:
_ Você não percebeu o que aconteceu aqui,
não é mesmo? Não precisa temer por sua vida, pequeña, pelo
menos não agora - a mulher
olhou novamente para Ricky, ambos sorriram, e ela continuou - no tempo certo
uma escolha te será dada, mas por enquanto, por que não olha no porta-luvas do
carro?
_ O que haveria no porta-luvas do carros?
- Christine pensou
Tendo dito isto a mulher virou as costas e
se afastou, os dois vampiros começaram a revirar os bolsos de Adam conversando
entre si algo que Christine não conseguia entender, ela olhou para o
porta-luvas do carro, para o colar que pendia no espelho e percebeu que na
verdade não era a
cabeça de um gato como ela pensou da primeira vez, mas sim uma espécie de
gárgula, com um rosto monstruoso que mais parecia a uma serpente e parecia
encará-la ameaçadoramente.
Um frio repentino fez seu corpo estremecer
e uma espécie de tontura fez com que ela baixasse a cabeça, como se fosse
desmaiar, ouviu um sussuro:
_ A chave! escutou uma voz suave de criança dentro de
sua mente repetindo - a chave!
_ Devo estar enlouquecendo! - Pensou.
Sentiu algo puxando seu braço, uma pequena
mão humana surgiu entre os bancos e apontou para a chave do carro que pendia na
ignição.Olhou para ver de onde vinha aquela mãozinha e se deparou com um
garotinho sentado no banco de trás. Tinha cabelos e olhos pretos, aparentava
ter menos de 8 anos de idade, vestia uma suave túnica marfim com cordões,
estava descalço e apontava para a chave do carro.
_ Quem é você? perguntou assustada, tendo dito isto olhou rapidamente para
os vampiros, com medo que eles vissem e matassem o garotinho - como foi parar ai? ela perguntou.
Mas o garoto não estava mais lá, tão
somente os sussurros sibilavam na sua mente:
_ A chave! - repetia a voz do menino.
Christine olhou para a chave do carro e se
lembrou das muitas vezes que vira seu pai fazendo isto, ela porém nunca tinha
dirigido, apenas fechou os olhos, girou a chave e pisou com força no
acelerador. O carro obedeceu milagrosamente e arrancou em linha reta mesmo que
ela não soubesse o que estava fazendo. O carro parecia estar vivo.
Seguiu apenas seu instinto e foi movendo o
volante como se fosse o guidão da própria bicicleta, não teve coragem de olhar
se os vampiros a estavam seguindo, apenas dirigia apressadamente de volta
pra casa.
Parou o carro em frente ao seu portão.
Respirou, colocou as mãos no rosto, debruçou-se sobre o volante e chorou
apertando o volante com as mãos como se fosse o pescoço de um inimigo.
Sentia o sangue de Adam fazendo suas mãos grudarem no volante, levantou a
cabeça aos poucos girando o pescoço para a esquerda, um par de olhos negros a
observava de perto, encostado no vidro do carro! Era o garoto.
_ Pare de me assustar assim! falou sussurrando - e quando foi abrir a porta, o garotinho
balançou a cabeça negativamente e mostrou-lhe as mãos, sangue pingava dos seus
dedinhos. Não só as mãos do garoto estavam cheias de sangue, toda a sua túnica
marfim estava ensanguentada assim como seus pés descalços deixavam uma trilha
de pegadas vermelhas que iam até a porta de sua casa.
O garoto desaparecera novamente e junto
com ele as pegadas de sangue.
Christine saiu do carro e correu para
casa, achou estranho a porta da frente estar aberta. Chamou pelos pais,
entretanto não ouviu resposta alguma. Percebeu sangue pelo chão, não eram
pegadas, mas alguns respingos nas paredes e manchas no carpete, sinais de luta.
_ Estão mortos! - ela pensou.
Chegando ao quarto deles, já imaginava o
que veria, mesmo assim, tomou coragem e tocou a maçaneta da porta, abrindo
devagar com esperança que tudo aquilo fosse só um pesadelo e que acordaria de
repente, sã e salva em sua cama. Sentiu a mão do garotinho segurando o
seu braço.
_ Ele está tentando me preservar - pensou -mas tenho que aceitar a realidade agora!
Sobre a cama encontrou os cadáveres de sua
família, os corpos tiveram o sangue drenado nas têmporas, ela não se
conteve e soltou um grito de pavor e ódio, saltando sobre a cama abraçou os
corpos de seus pais. O rifle de seu pai estava quebrado ao meio, com a parte de
madeira enterrada em seu peito, o cano de ferro estava retorcido no chão ao
lado da cama, sua mãe teve o pescoço quebrado.
_ Eles devem ter chegado antes de mim - pensou - essas
criaturas são muito rápidas. Em
meio àquele pesadelo real, Christine desejou não ter saído de casa naquela
noite, se arrependeu de todo a raiva que sentira de seu pai, seu pobre pai morto
nos seus braços ali junto com sua mãe, os dois tinham planos de comprar uma pequena
fazenda e viver no campo quando ela se casasse. Christine fechou os punhos de
ódio, queria vingança.
O garotinho reapareceu, surgindo dentre as
cortinas como um fantasma, estendeu-lhe a mão, já não havia sangue nelas.
Ela se levantou e seguiu o menino pela
casa, a escada do sótão se abriu de repente, sem que ninguém a tocasse, a
cabeça do menino surgiu da abertura do sótão, chamando para que ela subisse,
ela subiu as escadas de madeira, como fazia quando era criança, havia muita
poeira lá, teias de aranha, coisas velhas e sujas, o lugar estava escuro,
apenas a luz da lua atravessava um basculante de vidro e iluminava parcialmente
aquele local esquecido. O garoto apontou para uma caixa de madeira. Christine
retirou algumas coisas e limpou a poeira da caixa com uma camisa velha, um selo
em forma de cruz celta se formava no centro quando os dois lados da tampa se
juntavam e uma espécie de tranca impedia sua abertura.
O garotinho apontou para o crucifixo que
brilhava no pescoço de Christine:
_ A Chave!
Referencias
* “Anjo de Deus, sê tu
uma chama brilhante diante de mim, Sê tu uma estrela guia acima de mim, Sê um
bom caminho a seguir-me, Sê tu um pastor gentilmente após mim, de dia, de noite
e para sempre. Amen”. Trecho do Antigo
Oráculo Celta, intitulado Carmina
Gadelica.
Ah, cadê o próximo?
ResponderExcluirem 2013 kkkk brinks... agora que a história já tomou um rumo mais conclusivo, acredito que não vá demorar muito!
ExcluirAhh Vaz!!! Assim vc me mata!!! show d+... quero o px capítulo pra ontem uai.... perfeito!!!
ResponderExcluirvamos tentar neh... valeu por comentar!
ExcluirNOSSA!!!!!AMEI...TO LOUCA PRA LER MAIS!!!
ResponderExcluirNOSSA QTA INSPIRAÇÃO!!!SÓ VC MESMO...ATE A PROXIMA!!!S.E
ResponderExcluirstatus: aguardando ansiosamente pelo Capítulo 3! *----*
ResponderExcluirCaraca vc tem muito talento!
ResponderExcluirPor favor te imploro publica logo o poximo!
Por favor te imploro publica logo o proximo...
ResponderExcluirsi capítulo 3 por favor jeje
ResponderExcluirAmei seu romance voce tem muito talento quero ver logo o cap.3. obrigada \(^~^)/
ResponderExcluirSou sua nova fan \(^o^)/...quero maaaaais kkk
ResponderExcluir<3 Qual o nome do livro "A Chave"
ResponderExcluirObrigado pelo comentário Grazielly! Infelizmente não tenho data para o capítulo 3, mas já te antecipo que "a chave" da caixa é o crucifixo que ela tem no pescoço! Não é um livro, desculpe se te confundi! Grande abraço :D
Excluir